Na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) vai colocar a ministra Marina Silva em sua pré-campanha por meio de dois eventos, no próximo sábado (23), para marcar o apoio da Rede —partido que já compõe a federação com o PSOL.
Pela manhã, num ato eleitoral da Rede, a ministra do Meio Ambiente vai formalizar seu apoio a Boulos e entregar a ele uma série de compromissos socioambientais que devem ser incorporados às suas propostas para a cidade.
Em seguida, durante a tarde, ela participa da primeira plenária com apoiadores e especialistas para a montagem do plano de governo do deputado, que terá a questão ambiental e as mudanças climáticas como temas.
A entrada de Marina Silva para reforçar a pré-campanha de Boulos ocorre no momento em que o capital eleitoral da ministra foi possivelmente captado pela última pesquisa Datafolha, que mostrou Boulos e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) empatados tecnicamente na liderança, com 30% e 29%.
No segundo pelotão de postulantes, a suplente de deputada federal Marina Helena (Novo) marcou 7%, resultado comemorado por ela e seus aliados. Mas, para a diretora do Datafolha, Luciana Chong, parte dos entrevistados pode ter se enganado e entendido que o nome em questão era o de Marina Silva, que foi presidenciável em três eleições.
Procurada pela Folha, Marina Helena descarta tal hipótese e diz que vem ganhando tração eleitoral em eventos e entrevistas e também por ser, em sua opinião, a única opção da direita paulistana.
De qualquer forma, a equipe de Boulos planeja dar destaque e peso à aliança com Marina Silva —aliados do deputado apontam que os dados da pesquisa reforçam o papel da ministra na eleição da capital paulista. As agendas com ela, no entanto, já estavam marcadas mesmo antes da divulgação do Datafolha.
A leitura na pré-campanha do PSOL é a de que, numa eleição apertada como acreditam que deve ser a da capital, a lembrança da ministra pode fazer a diferença. Em 2022, Marina Silva concorreu a deputada federal por São Paulo e foi eleita com 237.526 votos, sendo a 24ª mais votada do país.
“A Marina Silva é um ativo muito importante, ela dialoga com muitos públicos”, afirma o deputado estadual Donato (PT), um dos coordenadores do programa de Boulos.
A equipe do deputado do PSOL avalia que, enquanto ele concentra votos na elite progressista, figuras como o presidente Lula (PT) podem ajudá-lo a chegar nas classes mais pobres e menos escolarizadas –mesmo potencial de Marina Silva, que além disso ainda pode alcançar o público evangélico.
“A gente ficou contente pela Marina Silva ter essa preferência [no Datafolha], essa boa lembrança, e por estar conosco. É uma figura agregadora, expressa a seriedade no trato da política, é mulher, evangélica”, afirma o deputado estadual Simão Pedro (PT).
“O tema que ela expressa [meio ambiente e mudanças climáticas] começa a entrar cada vez mais na agenda política e na cabeça das pessoas”, completa.
Além de Marina Silva, outros nomes da Rede devem participar do ato de apoio a Boulos no sábado, como Joênia Wapichana, presidente da Funai, e Ricardo Galvão, presidente do CNPq.
O apoio da Rede ao pré-candidato do PSOL já era, na verdade, tido como certo, visto que os dois partidos formaram uma federação em maio de 2022. Segundo a legislação eleitoral, as legendas da federação devem atuar conjuntamente em torno de um programa comum até 2026.
Em uma pesquisa que trouxe más notícias para Boulos, como o avanço de Nunes no eleitorado e a rejeição do deputado, de 34%, a pontuação de Marina Helena no Datafolha passou a ser vista no entorno do deputado como um ponto positivo do levantamento.
Há alguns indícios de que as Marinas foram confundidas pelo eleitor, como o fato de Marina Helena ter maior índice de conhecimento entre os eleitores menos escolarizados do que entre os mais instruídos, o que vai na contramão da tendência habitual.
Enquanto Marina Silva é ministra do governo Lula, Marina Helena milita na direita. Foi diretora de Desestatização do Ministério da Economia no governo Jair Bolsonaro e CEO do Instituto Millenium.
Na pesquisa Datafolha, 9% responderam incorretamente que Lula apoia Marina Helena –índice que sobe para 27% entre eleitores que declaram voto nela, sendo que, nesse grupo, 19% afirmam que o petista apoia Boulos.
Além disso, 72% dos que declararam voto nela dizem que não votariam num candidato apoiado por Bolsonaro de jeito nenhum (11% votariam com certeza em alguém apoiado pelo ex-presidente).
Ainda no eleitorado de Marina Helena, 31% escolheriam com certeza um candidato apoiado por Lula e 34% não escolheriam de jeito nenhum.
A pré-candidata do Novo diz à Folha que “parece bastante absurdo” que tenha havido qualquer confusão. “A gente tomou muito cuidado com isso. Meu sobrenome é Santos, estou usando ‘Helena’ para evitar esse tipo de erro. Helena é muito distante de Silva.”
Quando questionada sobre o reforço de Marina Silva na campanha de Boulos para apropriação do eventual eleitorado da ministra, Marina Helena reage: “Boa sorte para eles, eu não acredito que seja isso”. “Somos figuras completamente diferentes, defendemos pautas até de maneira oposta”, completa.
Marina Helena lembra ainda que, na eleição de 2020, a candidata da Rede, apoiada por Marina Silva, era a atual deputada estadual Marina Helou, que marcava 1% no Datafolha e teve 22.073 votos (0,41%). Ou seja, embora tivesse o nome Marina, não havia erro do eleitor.
Integrantes da Rede, porém, argumentam que, naquela eleição, Marina Silva não estava em evidência nacional como agora e afirmam que o partido Novo passou a identificar Marina Helena apenas como “Marina” em suas redes, estratégia que a pré-candidata diz que não é e nem será usada.
Marina Helena atribui sua intenção de voto à exposição que tem tido nas redes, na mídia e ao rodar a cidade.
“A gente traz essa proposta de ética e gestão para a cidade, vejo que isso teve uma ressonância. Também sinto que o eleitor estava carente de uma opção de direita”, afirma ela, mencionando que Kim Kataguiri (União Brasil) pode não ser candidato e que Nunes, apesar de apoiado por Bolsonaro, se declara de centro.
O Datafolha ouviu 1.090 eleitores na capital paulista entre 7 e 8 de março. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo SP-08862/2024.