A Águas do Rio, principal concessionária de saneamento do Rio de Janeiro, iniciou no fim do ano passado testes com tecnologias usadas no projeto de limpeza do rio Pinheiros para acelerar a despoluição da baía de Guanabara.
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Desde novembro, a empresa usa a estação de tratamento de esgoto da Pavuna para despoluir o rio de mesmo nome, estratégia das unidades de recuperação utilizadas em São Paulo. Em janeiro, também passou a fazer injeção de oxigênio no rio Joana, na Tijuca, para reduzir a matéria orgânica gerada pelo lançamento de esgoto.
As duas estratégias são auxiliares à principal de despoluição no Rio de Janeiro, assim como foram em São Paulo. Elas fazem parte do orçamento total de R$ 2,7 bilhões para o projeto.
A Águas do Rio tem até 2026 para barrar o lançamento dos dejetos nos corpos hídricos que deságuam na baía de Guanabara por meio dos chamados coletores de tempo seco. Eles têm esse nome porque operam apenas em dias sem chuva, usando a rede pluvial para encaminhar o esgoto para as estações de tratamento.
O contrato de concessão também prevê a ampliação da rede exclusiva de esgoto para 90% da população até 2033.
Como a Folha mostrou em setembro, a construção dos coletores de tempo seco está em atraso por falta de aprovação dos projetos na Agenersa (Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico). A concessionária, porém, garante que entregará a estrutura no prazo acordado.
A injeção de oxigênio é a tecnologia mais nova para auxiliar no objetivo. Ela consiste na captação de parte da vazão do rio, para fazer o beneficiamento com oxigênio em tanques e devolver a água para o leito.
“O que mata o rio é a demanda biológica por oxigênio. Há uma carga orgânica tão grande que toda a biota dissolvida lá consume todo o oxigênio disponível na água e o rio fica morto. Aquele cheiro forte vem porque, na ausência de oxigênio, as bactérias anaeróbicas geram metano”, diz Sinval Andrade, diretor institucional da empresa.
“Quando você coloca oxigênio, aquelas bactérias anaeróbicas deixam de ser as mais populosas, e as que vivem de oxigênio passam a popular e a consumir a matéria orgânica.”
Os tanques de oxigênio da Águas do Rio estão instalados num canto do antigo estádio de atletismo Célio de Barros, ao lado do estádio do Maracanã. O rio Joana passa em frente ao complexo esportivo.
Os testes verificam qual a capacidade de depuração da água ao longo de um quilômetro. O objetivo é avaliar a tecnologia e os custos de sua utilização.
O rio Joana deságua no canal do Mangue, que termina na baía. Em São Paulo, porém, a tecnologia foi usada no próprio rio Pinheiros.
De acordo com Cristina Zuffo, superintendente de pesquisa, desenvolvimento e inovação, a injeção de oxigênio serviu como uma “barreira final” para a poluição no corpo hídrico.
“O rio Pinheiros tem várias peculiaridades. Ele não tem uma velocidade muito elevada, é mais raso, o que demandava um incremento de oxigênio também no próprio rio para que a gente conseguisse melhorar ainda mais a qualidade “, afirma ela.
A injeção ocorre próxima à usina elevatória São Paulo, ponto mais profundo do rio. A tecnologia é norte-americana e foi usada pela primeira vez no Brasil no projeto Novo Rio Pinheiros.
As unidades de recuperação, por sua vez, já foram utilizadas no passado pela Prefeitura de São Paulo em pequenos córregos da capital, segundo Nivaldo Rodrigues da Costa Junior, superintendente de Engenharia Operacional.
Elas basicamente desviam parte do curso do rio para dentro de uma estação de tratamento, que devolve a água mais limpa. Essas unidades atenderam a 5 dos 25 córregos que deságuam no rio Pinheiros. Elas foram instaladas apenas em locais onde a ampliação da coleta exclusiva de esgoto ou a instalação de coletores de tempo seco não eram viáveis.
“Elas fizeram parte da composição do projeto. O foco principal é, além de levar a universalização do saneamento, trazer o benefício ambiental e despoluição do rio. A unidade de recuperação não é uma estação de tratamento de esgoto, nem de água. É algo específico para recuperar o rio”, explica.
No Rio de Janeiro, a estratégia é testada no rio Pavuna, divisa com Duque de Caxias, que deságua direto na baía.
“Todas essas são estratégias complementares. No passado, a gente achava que saneamento era fazer obra. Saneamento é um exercício de operar. A obra é um percalço que a gente tem que viver. Aquele transtorno momentâneo para prestar aquele serviço”, diz Andrade.
Zuffo ressalta que “uma tecnologia só não é milagrosa” e afirma que a base do projeto do rio Pinheiros foi ampliar a rede de coleta de esgoto em 650 mil casas e comércios, atendendo a 1,8 milhão de pessoas. No Rio de Janeiro, a meta é ampliar o serviço para 90% da população até 2033, em linha com o novo marco regulatório do setor.
“Precisa de uma série de ações para atingir o resultado final. Obras de infraestrutura, ampliação de estações de tratamento de esgoto, unidades de recuperação [de rios] quando não é possível entrar nas comunidades, e novas tecnologias, como a injeção de oxigênio, para fazer um polimento final de qualquer resquício que tenha sobrado, para garantir um bom corpo hídrico”, diz ela.
Os projetos de despoluição da baía de Guanabara superam 40 anos. Após a concessão dos serviços de saneamento, em 2021, o governo estadual mudou a estratégia para alcançar o objetivo
Em vez de buscar construir rede de exclusivas para coletar o esgoto nas residências e comércios, optou-se pela montagem de estruturas que barrem o despejo dos dejetos no leito do rio por meio das galerias pluviais, para água de chuva. A estratégia funciona apenas em dias secos, o que dá origem ao seu nome (coletores de tempo seco).
A concessionária afirma que concluirá as obras no prazo. Porém, em documento enviado à Agenersa, previu um atraso de dois anos na conclusão das intervenções.