Lula oferece carne ao primeiro-ministro japonês, que está no Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta sexta-feira (03), com honras de Estado, o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida. No encontro, chamou atenção a insistência de Lula na abertura do mercado japonês à carne bovina brasileira.

Durante a declaração conjunta à imprensa, o presidente afirmou que Kishida “não ia querer voltar para o Japão” se provasse o churrasco nacional. Dirigindo-se ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, Lula citou os compromissos do premiê hoje em São Paulo. “Eu não sei o que vocês jantaram ontem (anteontem) mas, pelo amor de Deus, se estiverem em São Paulo, Alckmin, você, que foi governador do estado, você é o ministro de Desenvolvimento. Você é o vice-presidente. Leve o primeiro-ministro Fumio para comer um churrasco no melhor restaurante de São Paulo, para que, na semana seguinte, ele comece a importar a nossa carne”, brincou o presidente.

A abertura do mercado japonês era o maior objetivo do encontro entre Lula e Kishida, pelo menos no campo econômico. Segundo o Itamaraty, o Brasil quer competir com Estados Unidos e com a Austrália, que dominam 80% do mercado de carne bovina importada no Japão. O país tenta a abertura desde 2005, mas sem sucesso. Segundo representantes do governo japonês, o que trava a comercialização até agora são os procedimentos de controle sanitário (leia mais ao lado).

Lula destacou, em seu discurso, que a carne brasileira é de qualidade e “mais barata” do que a comprada pelos japoneses. “O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, faz um churrasco que, se o primeiro-ministro comesse, não iria querer voltar para o Japão”, disse ainda o presidente.

Outra preocupação externada por Lula, e também pelo governo japonês, é com a queda do fluxo comercial entre os dois países. As negociações já chegaram a um fluxo de US$ 18 bilhões em seu auge, mas caíram para US$ 11 bilhões atualmente. O chefe do Executivo também incentivou que os empresários japoneses invistam em transição energética e produção sustentável.

Kishida, por sua vez, prestou sua solidariedade às vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul, que já somam mais de 37 mortos, além de milhares de desalojados e desabrigados. O primeiro-ministro também disse apoiar o pleito brasileiro de ocupar um acento no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Para ele, a parceria com o Brasil nesse tema é essencial em “um momento de difícil situação internacional”.

Ele também destacou a atuação conjunta na preservação do meio ambiente, como a doação de US$ 15 milhões ao Fundo Amazônia e a parceria histórica do Japão para recuperação de áreas degradadas no Cerrado. Além disso, uma parceria verde assinada ontem prevê, entre outras medidas, a combinação da tecnologia automotiva japonesa com o biocombustível brasileiro em carros híbridos flex.

Kishida também destacou que considera os dois países parceiros estratégicos em temas globais e informou que o Japão apoiará as prioridades brasileiras à frente do G20 neste ano. Na cerimônia de ontem, o governo brasileiro e o japonês assinaram uma série de memorandos em áreas, como comércio e segurança cibernética. Empresas brasileiras e japonesas firmaram, ainda, em torno de 36 acordos, incluindo parcerias com a comunidade nikkei (termo usado para se referir a descendentes de japoneses em outros países) e de produção e venda de biomateriais, biocombustíveis e energias renováveis entre Suzano e Mitsui.

Cenário global

Para o governo japonês, a visita do primeiro-ministro Fumio Kishida ao Brasil representa o avanço nas relações entre dois países. Durante o almoço entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Kishida, no Itamaraty, a secretária de imprensa do Japão, Maki Kobayashi, conversou com um pequeno grupo de jornalistas sobre os anúncios feitos pelo premiê.

Segundo ela, o Japão vê o Brasil como um país muito importante no cenário global, especialmente ao presidir o G20 e realizar a COP 30 no ano que vem, em Belém (PA). Outro tema comum entre os dois países é a preocupação com o crescimento das hostilidades no mundo, e a busca de solução pacífica.

Um integrante do governo japonês, sob reserva, citou preocupações com a realização de exercícios militares conjuntos da China e da Rússia próximos à costa do Japão, além da vizinhança com a Coreia do Norte. “Estamos cercados por gente boa”, ironizou. Para o Japão, a expectativa é que o Brasil possa influenciar China e Rússia, bem como outros integrantes do Brics, a minimizar hostilidades.

Já sobre a relação comercial com o Brasil, Kobayashi sinalizou que há vontade do Japão em importar carne bovina brasileira, como defendeu Lula no encontro com Kishida. Porém, atribui a demora nas negociações aos trâmites sanitários.

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