Vídeo de 2010 descredibilizando as urnas sem provas volta a circular como se fosse atual

Investigado por: Estadão e Folha de S.Paulo.

Enganoso: É enganoso o discurso do então deputado federal pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), Fernando Chiarelli, na Câmara dos Deputados, criticando o processo eleitoral brasileiro, que voltou a circular neste domingo de eleição como se fosse recente. O vídeo é de 2010 e, diferentemente do que o político afirma, ele não provou que as urnas eletrônicas são uma farsa. Usados no Brasil desde 1996, os equipamentos já foram alvo de diversas denúncias de fraude, mas, até hoje, nenhuma foi comprovada, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Conteúdo investigado: Vídeo mostra discurso na Câmara dos Deputados de político dizendo que o sistema eleitoral brasileiro é uma fraude, que as urnas eletrônicas não são utilizadas em nenhum outro lugar do mundo e são programadas para favorecer candidatos. No início do vídeo, uma mensagem sugere que a gravação é recente e que teria sido retirada do YouTube.

Onde foi publicado: WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso vídeo de parlamentar dizendo que as urnas eletrônicas são “uma mentira”. A gravação, que é de novembro de 2010 e voltou a viralizar neste domingo (6), dia do primeiro turno das eleições municipais de 2024, mostra o então deputado federal pelo PDT Fernando Chiarelli em sessão plenária falando, sem provas, que as urnas já estariam preparadas “para criar quem vai ganhar e quem vai perder a eleição”.

Ainda em seu discurso, ele diz que provaria, durante o mandato, que “o sistema eleitoral brasileiro é uma farsa”. Além de ele não ter apresentado nenhuma evidência disso, nenhuma denúncia de fraude contra as urnas eletrônicas, em uso no Brasil desde 1996, foi comprovada até hoje, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Comprova já publicou diversas verificações abordando a segurança do processo eleitoral brasileiro (veja mais abaixo).

“As urnas têm um componente interno altamente protegido, chamado hardware de segurança, que faz várias verificações nos programas que rodam dentro do equipamento em diversos momentos. Se houver qualquer alteração nos programas, a urna simplesmente não funciona”, afirma texto publicado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). Além disso, elas podem ser auditadas antes, durante e depois das eleições.

Também não é verdade que o sistema eletrônico é usado apenas no Brasil. Levantamento realizado em 2023 pelo instituto International Idea, organização que apoia democracias em todo o mundo, mostrava que 34 países usavam o voto eletrônico em algum nível. Os Estados Unidos, que Chiarelli cita como uma nação que não usaria a tecnologia, a utilizam em parte do seu território.

Chiarelli também desinforma ao insinuar que os deputados João Hermann, Enéas e Clodovil teriam sido assassinados por denunciarem problemas nas urnas. Hermann, que foi deputado e prefeito de Piracicaba, no interior paulista, morreu por causa de um edema pulmonar, conforme publicado pelo PDT, partido de Chiarelli e de Hermann quando ele faleceu. Enéas, de leucemia, e, Clodovil, em decorrência de um acidente vascular cerebral.

Antes de exibir a fala enganosa de Chiarelli, o conteúdo verificado aqui exibe uma mensagem dizendo que o vídeo do deputado é recente e teria sido retirado do ar pelo YouTube, o que também não é verdade. De 2010, como informado acima, a fala do então deputado pode ser vista na plataforma. O Comprova não publica o link para não ajudar a disseminar a desinformação.

Na política desde 1992, Chiarelli foi cassado por falta de decoro dois anos depois por ofender um vereador com deficiência e, por isso, ficou oito anos inelegível.

Uma reportagem do Congresso em Foco, publicada em 2010, mostrou que, na época em que era deputado, ele foi um dos parlamentares com mais processos no Supremo Tribunal Federal (STF) na região Sudeste, com dez investigações em curso. À época, Chiarelli foi campeão de novos processos durante a tramitação do projeto ficha limpa e de casos de crimes contra a honra.

De acordo com uma reportagem publicada pelo UOL em 2011, ele ganhou notoriedade no município de Ribeirão Preto, no interior paulista, ao promover ações judiciais contra ex-prefeitos e ex-vereadores, interpretadas como uma forma de vingança pela sua cassação.

As controvérsias continuaram em 2016, quando, como pré-candidato à prefeitura de Ribeirão pelo PTdoB (hoje Avante), foi preso pela Polícia Federal por ofensas dirigidas à então prefeita da cidade, Dárcy Vera, em 2012. No dia da prisão, ele seria oficializado como candidato às eleições municipais daquele ano. Mais tarde, a Justiça Eleitoral o considerou inelegível com base na Lei da Ficha Limpa.

Em 2020, Chiarelli teve sua candidatura à prefeitura de Ribeirão Preto aceita pelo TRE-SP dois dias antes do primeiro turno. Inicialmente, seu registro havia sido indeferido devido ao não pagamento de uma multa de R$ 73 mil relacionada a uma condenação de 2013. Após quitar a multa, a defesa do político recorreu ao TRE-SP, que reverteu a decisão por unanimidade.

A última disputa eleitoral em que Chiarelli participou foi em 2022, quando concorreu a deputado federal por São Paulo pelo Patriota, atualmente PRD. Ele não foi eleito.

A reportagem não conseguiu contatá-lo.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O conteúdo verificado aqui está circulando no WhatsApp, onde não é possível mensurar a viralização, mas ele vem acompanhado do aviso “Encaminhada com frequência”.

Fontes que consultamos: Vídeo com o discurso de Chiarelli, e site do TSE e do TRE-SP, além de reportagens sobre o político.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o Comprova já verificou diversos conteúdos que colocavam em dúvida a credibilidade das urnas. Veja alguns exemplos do que já foi publicado abaixo:

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Dia Mundial do Turismo: saiba o que pensam líderes do setor sobre atividade e a data

Dia Mundial do Turismo: saiba o que pensam líderes do setor sobre atividade e a data (Especialistas do setor público e privado refletem sobre a data (Fotos: divulgação))

Criado pela Organização Mundial do Turismo (OMT) há exatos 45 anos, o Dia Mundial do Turismo é celebrado em todo o globo no dia 27 de Setembro, com um convite para refletir, comemorar e projetar a importância cultural, social e econômica desta potente indústria. Com seu papel transformador, o turismo gera milhões de empregos, promove o intercâmbio de culturas e fortalece o compromisso de vários players, inclusive os viajantes, com a defesa e preservação da fauna e da flora.

Ouvimos líderes de algumas das mais importantes empresas que compõem a indústria no Brasil, assim como a subsecretaria de Turismo do Chile, Verónica Pardo. Em comum, eles reforçam que a data é uma oportunidade que deveria gerar inquietude em todos, promovendo a reflexão sobre o papel de cada um na promoção de um futuro mais inclusivo por meio do turismo e a partir de mudanças positivas, praticadas individual e coletivamente.

Clayton Araújo, gerente Comercial da Europamundo, é o primeiro a propor essa reflexão. Em sua avaliação, “o turismo vai muito além do próprio negócio”, diz, reforçando que exatamente por isso, é preciso que as empresas revejam suas atuações e busquem, cada vez mais, proporcionar um turismo responsável e sustentável. “O direito de viajar nos foi negado nos últimos anos e isso gerou uma demanda maior, com reflexos como o overturismo, situação que vem sendo tratada, entre outros, com a limitação de pessoas em locais de grande circulação. Há, também, a identificação de destinos que se tornam alternativa às grandes capitais. E há, ainda, a mudança do comportamento do viajante: a sociedade está mais focada em inclusão e tolerância, o que é muito bom. E o turismo é uma importante ferramenta neste sentido”, diz.

Inclusão também é palavra de ordem para Rafael Turra, diretor da Vital Card. “O turismo tem o poder de solucionar grandes problemas dos países, suas sociedades e como se relacionam entre si. Nossa indústria derruba muros, aproxima culturas, gera oportunidades – não só financeiras, mas também para que preconceitos sejam superados e tensões sejam pacificadas”, diz.

Lideranças concordam que o Dia Mundial do Turismo é uma data importante para refletir sobre o setor (Fotos: divulgação)

Convidado a definir o turismo em até cinco palavras, Caio Calfat, fundador e diretor-geral da Caio Calfat Real Estate Consulting, e vice-presidente de Assuntos Turístico-Imobiliários do SECOVI-SP, responde rapidamente que “turismo significa qualidade de vida”. Na avaliação do executivo, a expressão “qualidade de vida” pode e deve ser usada a partir de dois pilares de igual importância: o primeiro deles trata do viajante, no sentido mais puro da expressão; e o segundo trata dos reflexos econômicos da indústria, considerando tributos, geração de negócios e de empregos. Com os cerca de 100 subsetores cujas atividades orbitam e dependem da indústria, o turismo é responsável por quase 10% dos empregos em todo o mundo. “No que diz respeito ao Brasil, esperamos que os governos federal, estadual e municipal valorizem o setor como atividade econômica e invistam no turismo brasileiro”, diz.

Quem também fala sobre falta de incentivos é Cesar Nunes, VP de Marketing e Vendas da Atrio Hotel Management, maior administradora hoteleira de capital 100% nacional do Brasil. “Hoje vivemos uma situação de escassez de mão de obra muito grande no turismo global e a profissão perdeu atratividade para as novas gerações. Além disso, se vê muito pouco – ou quase nada – de investimentos ou de incentivo para formação de mão de obra qualificada por parte dos governantes. Até quando o nosso turismo vai viver em berço esplendido quando tem a oportunidade de se transformar em uma grande potencia mundial?”, questiona.

Jardel Couto, CEO da VCA Construtora, destaca a importância de aliar o foco no presente e a oportunidade de desenhar um futuro melhor. “Comemorar o Dia Mundial do Turismo é trazer os olhares para os desafios que o setor possui nas esferas social, econômica, histórica e ambiental. Assim, podemos contemplar sua relevância sem perder de vista à condução de longo prazo para a construção de um turismo mais equânime e com melhor orientação”, diz.

Presente no Brasil desde 2016, o líder global em hospitalidade aeroportuária, Plaza Premium Group, é responsável pela gestão de mais de 10 lounges localizados em embarques nacionais e internacionais do Aeroporto Internacional de São Paulo, o GRU Airport, e do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o RIOgaleão. Emerson Sanglard, Sales Manager & Marketing Manager Brazil, fala sobre a importância da reflexão para trazer melhores práticas. “Além do aspecto econômico, o turismo conecta pessoas, gera inclusão e promove culturas ao redor do mundo. Penso que a data serve como uma pausa para reflexão e nos impulsiona a melhorar, sempre. Nós temos o compromisso de pensar, todos os dias, em quais experiências iremos oferecer para atender a todos os perfis de viajantes no Brasil e no mundo”.

Uma reflexão sobre os impactos da pandemia no Dia Mundial do Turismo

É fato que as feridas causadas pela pandemia nunca serão esquecidas nos âmbitos da saúde, social, cultural e econômico. Mas também há importantes aprendizados. Um deles trata do turismo sustentável, que vem deixando o lugar de nicho para ser uma preocupação real de governos, empresas, executivos e viajantes.

Em tom otimista, Verónica Pardo, subsecretaria de turismo do Chile, fala sobre as lições da pandemia que são voltadas para a sustentabilidade na indústria. “O que vivenciamos nos deu a oportunidade de mostrar como queremos oferecer o que temos e como podemos definir nossas regras para preservar nosso meio ambiente e cuidar dele para as novas gerações. É como quando convidamos pessoas para nossa casa: nos preocupamos desde a chegada até a saída de quem nos visita, quanto tempo queremos que fiquem e como cuidamos do que temos a oferecer, inclusive, estabelecendo nossos limites. Este importante aprendizado nos permite lançar as bases para o desenvolvimento sustentável do turismo”, diz.

Na avaliação de Rodrigo Rodrigues, diretor Comercial da Schultz Operadora, embora a indústria do turismo tenha demonstrado resiliência, “ainda é prematuro afirmar que os impactos da pandemia foram completamente superados e muitas empresas estão em processo de recuperação financeira, como é o caso das aéreas”, diz.

No entanto, apesar dos desafios, Rodrigues lembra que a pandemia desencadeou diversas transformações positivas e que terão implicações duradouras, entre as quais estão inovações tecnológicas (check-in virtual, pagamentos sem contato e experiências de realidade aumentada), cujo investimento continuará a crescer, melhorando a experiência do cliente e a eficiência operacional; priorização da saúde e bem estar, com destinos e serviços com este foco tendo vantagem competitiva; adaptabilidade, conceito a partir do qual empresas mais ágeis e adaptáveis terão mais sucesso em um mercado em constante evolução; e sustentabilidade como prioridade. “O aumento da demanda por viagens mais sustentáveis e ecoturismo já é uma realidade”, finaliza.

Para além do desafio de equilibrar indicadores como faturamento, diária média e ocupação, Tais Castro, gerente Comercial do Jardim Atlântico Beach Resort, empreendimento localizado em Ilhéus (BA), fala sobre aprendizados e lições. “Aqui no resort, todos os setores intensificaram seus processos e adotaram melhorias, seja na área de alimentação, seja no cuidado mais intenso nas limpezas. Tivemos que nos adequar e evoluir para melhorar ainda mais a garantia dos serviços oferecidos e o acolhimento dos hóspedes”, diz.

João Cazeiro, diretor de Desenvolvimento da Livá Hotéis & Resorts, fala sobre os dois lados de uma mesma moeda. “Com a pandemia, de um lado, novos destinos foram criados, os chamados destinos-boutique, com hotéis exclusivos de 15 ou 20 apartamentos e que foram desenvolvidos pela ‘oportunidade’ da pandemia, sem planejamento adequado. De outro, hoje, esses empreendimentos sofrem pela falta de escala porque o viajante que tem o perfil para esse produto e/ou destino voltou a fazer viagens internacionais”, diz.

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O vírus transmitido por mosquitos que se espalha pelos EUA e pela Europa sem cura ou vacina

Anthony Fauci teve uma notável carreira como um dos principais pesquisadores do vírus HIV em todo o mundo. Mais recentemente, ele foi o rosto do programa norte-americano de combate à pandemia de covid-19.

Mas o vírus que o hospitalizou recentemente é outro, muito diferente.

Em agosto, Fauci, com 83 anos de idade, começou a sentir sintomas de febre, calafrios e fadiga. Ele contraiu a febre do Nilo Ocidental, causada por um vírus transmitido por mosquitos.

O patógeno foi descoberto em Uganda, nos anos 1930. Mas Fauci não contraiu o vírus no leste africano.

Na verdade, um mosquito infectado supostamente o picou no quintal de casa, nos Estados Unidos — e estes incidentes estão se tornando cada vez mais comuns.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) declararam à BBC que 2 mil americanos contraem a febre do Nilo Ocidental todos os anos. São 1,2 mil doenças neurológicas potencialmente fatais e mais de 120 mortes, anualmente.

“Todos podem estar em risco”, afirma a professora de pediatria Kristy Murray, da Universidade Emory em Atlanta, no Estado americano da Georgia. Ela estuda o vírus do Nilo Ocidental há quase duas décadas.

“Uma simples picada de mosquito é tudo o que é preciso para ser infectado”, explica ela. “E, embora a forma grave da doença atinja principalmente os indivíduos mais idosos, os jovens também podem ficar doentes.”

Anthony Fauci supervisionou o programa norte-americano de combate à covid-19. Ele foi hospitalizado com a febre do Nilo Ocidental em agosto de 2024

No final de agosto de 1999, um médico infectologista do distrito de Queens, em Nova York (EUA), relatou ao Departamento de Saúde e Higiene Mental da cidade dois casos de encefalite viral, ou inflamação do cérebro. E casos similares foram identificados em hospitais vizinhos, dando início a uma investigação urgente.

Estimativas concluíram que, ao todo, esta misteriosa epidemia infectou cerca de 8,2 mil pessoas em toda a cidade. Foi o primeiro surto conhecido da febre no hemisfério ocidental.

Ninguém sabe exatamente como o vírus foi levado de partes da África, Oriente Médio, sul da Europa e da Rússia, onde circula há décadas, para os Estados Unidos. Mas pesquisas já demonstraram que as aves são os principais vetores do vírus.

Os mosquitos contraem o vírus quando se alimentam de aves infectadas. Depois, eles o transmitem para os seres humanos.

Desde aquele surto inicial em 1999, houve mais de 59 mil casos de febre do Nilo Ocidental nos Estados Unidos e outras 2,9 mil mortes. Mas algumas estimativas indicam que o número real de infecções é de mais de três milhões.

Existem agora preocupações cada vez maiores de que os surtos da febre nos Estados Unidos e em todo o mundo irão se tornar mais frequentes, devido às mudanças climáticas.

Estudos demonstraram que as temperaturas mais altas podem acelerar o desenvolvimento do mosquito, o índice de picadas e a incubação do vírus no inseto.

Na Espanha, o vírus é endêmico — e um surto sem precedentes em 2020 foi seguido por um período prolongado de aumento da circulação.

Este episódio gerou preocupações maiores. As infecções eram predominantemente assintomáticas, com apenas uma a cada cinco pessoas sentindo sintomas suaves. Mas os casos graves podem resultar em deficiências para toda a vida.

Em cerca de uma a cada 150 pessoas, o vírus pode invadir o cérebro e o sistema nervoso central, causando inflamações que podem custar a vida do paciente — e, em muitos casos, lesões cerebrais.

E pessoas com algum tipo de imunocomprometimento, com mais de 60 anos de idade ou portadores de diabetes ou hipertensão são particularmente vulneráveis.

“Com a hipertensão, achamos que o aumento da pressão no cérebro permite que o vírus cruze a barreira hematoencefálica com mais facilidade”, explica Murray.

Depois de acompanhar pacientes que sofrem de casos graves da febre do Nilo Ocidental por muitos anos, Murray afirma que a inflamação resultante pode causar grave contração ou atrofia cerebral. Nas varreduras, surgem frequentemente padrões similares às pessoas que sofreram lesões traumáticas do cérebro.

“Entre os pacientes com doença grave, cerca de 10% morrerão da infecção aguda e cerca de 70-80% irão sofrer consequências neurológicas de longo prazo”, prossegue Murray.

“Para os sobreviventes, a doença não necessariamente melhora; muitas vezes, ela fica pior. As pessoas relatam depressão, mudanças de personalidade, este tipo de coisas”.

Mas, apesar destes riscos inerentes, atualmente não existe vacina e nem mesmo tratamento específico que possa ajudar pessoas infectadas.

“Ela realmente se tornou uma doença negligenciada”, afirma Murray.

“Somente neste ano, recebi muitos contatos de pacientes recém-diagnosticados com a febre do Nilo Ocidental, perguntando ‘o que podemos fazer?’ E respondo ‘realmente não há nada’. O tratamento é simplesmente de apoio e parte meu coração ter que dizer isso a elas.”

Dificuldades técnicas e financeiras

Quando o assunto é a falta de medidas preventivas contra as infecções pela febre do Nilo Ocidental, uma das maiores ironias é que, há 20 anos, já existem vacinas seguras e de alta eficácia contra aquele vírus — mas para cavalos.

Existe desde 2003 nos Estados Unidos uma vacina contra o vírus do Nilo Ocidental para cavalos

Entre 2004 e 2016, houve nove testes clínicos de possíveis vacinas para uso humano. Duas delas foram lançadas pela farmacêutica francesa Sanofi e as restantes por companhias de biotecnologia, instituições acadêmicas ou diversas organizações governamentais norte-americanas.

Todas elas são geralmente bem toleradas e induzem reação imunológica, mas nenhuma delas foi aprovada para o teste clínico de fase 3. Esta é a barreira final e mais importante para que uma vacina seja autorizada e envolve o teste da eficácia do tratamento.

O último destes testes, financiado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, não saiu da fase 1 — a primeira etapa, normalmente destinada a confirmar se a intervenção é segura.

A diretora médica da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores dos CDC em Fort Collins (Colorado, Estados Unidos), Carolyn Gould, afirma que a natureza esporádica e imprevisível dos surtos de febre do Nilo Ocidental tem representado um grande obstáculo. O motivo é que o vírus precisa circular naquele momento específico para poder comprovar que a vacina está realmente funcionando.

“Alguns testes foram lançados durante um período tranquilo, sem muitos casos”, conta Murray.

“Mas houve um surto em 2012, quando tivemos mais de 2 mil casos somente no Texas (EUA) e mais de 800 deles eram casos graves. Por isso, se eles tivessem esperado alguns anos, poderiam ter todos os participantes necessários.”

Em 2006, um importante estudo de viabilidade econômica das vacinas concluiu que um programa de vacinação contra o vírus da febre do Nilo Ocidental provavelmente não resultaria em redução dos gastos do sistema de saúde.

Gould acredita que o enorme custo de desenvolvimento da vacina, combinado com benefícios ou retornos financeiros incertos, do ponto de vista das companhias farmacêuticas, tenha sido um grande obstáculo.

Mas diversas alternativas possíveis surgiram nos últimos anos. Cientistas recomendaram um programa de vacinação específico para pessoas com mais de 60 anos de idade, que sofrem maior risco com o vírus. Já Gould defende um programa destinado a regiões específicas dos Estados Unidos, onde há maior incidência dos mosquitos portadores do vírus.

Além disso, Gould acredita que o aumento das evidências sobre os efeitos de longo prazo das lesões neurológicas causadas pela doença poderia promover o desenvolvimento de vacinas.

As estimativas mais recentes indicam que o custo total dos pacientes hospitalizados com a febre do Nilo Ocidental é de US$ 56 milhões (cerca de R$ 305 milhões) e os custos de curto e longo prazo podem ultrapassar US$ 700 mil (cerca de R$ 3,8 milhões) por paciente.

“Estudos mais recentes demonstram que poderia ser economicamente viável desenvolver a vacina para grupos de alto risco em locais geográficos específicos”, segundo Gould.

“Do ponto de vista dos fabricantes, seria importante analisar o grande número de pessoas com maior risco de consequências sérias da febre do Nilo Ocidental, ao calcular as previsões de vendas.”

Considerando as mortes e deficiências neurológicas causadas atualmente pelo vírus, o presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, Paul Tambyah, descreve a atual impossibilidade de encontrar uma solução como “falta de imaginação”.

“Todos pensam que é preciso fazer esse teste de fase 3 em massa nos Estados Unidos, o que é difícil para uma doença que aparece apenas por dois meses e meio do ano de forma imprevisível, já que, em alguns anos, você tem um surto massivo e, em outros, não”, explica ele.

Tambyah propõe um grande teste internacional, com centenas de locais de teste diferentes — e não só nos Estados Unidos, mas em regiões da África onde o vírus é endêmico. Seria uma forma mais eficaz de reunir as evidências necessárias.

Seriam necessários vários milhões de dólares de financiamento para lançar esta iniciativa. Mas ele afirma que, com a ajuda de parcerias entre os setores público e privado, reunindo recursos de diversos governos de países afetados e companhias farmacêuticas de pequeno e médio porte, seria possível reduzir o risco financeiro envolvido, caso o teste não conseguisse comprovar a eficácia da vacina.

“Existem alguns mecanismos possíveis para fazer com que isso aconteça”, afirma ele. “É preciso ter apenas a força de vontade de fazer algo a respeito.”

As mudanças climáticas aumentam o risco de infecção pelo vírus do Nilo Ocidental entre as pessoas, acelerando a reprodução do patógeno, entre outros fatores

A busca de medicamentos

Da mesma forma que as vacinas, também é preciso encontrar tratamentos mais eficazes para as pessoas que sofrem a forma grave da febre do Nilo Ocidental.

Kristy Murray afirma que foram desenvolvidos dois possíveis medicamentos com base em anticorpos gerados artificialmente contra o vírus, chamados anticorpos monoclonais. Mas eles não progrediram além dos estudos com roedores. Seus desenvolvedores enfrentaram os mesmos obstáculos dos fabricantes de vacinas para idealizar um teste clínico adequado.

Murray acredita que a necessidade mais urgente é encontrar um medicamento que não só elimine o vírus, mas que possa também ser usado para aliviar a violenta inflamação no cérebro, que causa muitas das complicações neurológicas. Ela suspeita que, em alguns casos, o vírus se abriga nas células nervosas do cérebro, onde não é facilmente atacado.

“Ele cruza a barreira hematoencefálica e se instala dentro do cérebro, onde você tem a inflamação e as lesões”, explica Murray. “O problema é que muitos dos nossos antivirais existentes não conseguem atingir o cérebro, de forma que não chegam aonde precisam mostrar sua eficácia.”

Mas pode haver alternativas. Paul Tambyah acredita que podemos fazer uso de muitas lições da pandemia de covid-19.

Apesar de toda a corrida global para desenvolver um agente antiviral contra o vírus Sars-CoV-2, um dos tratamentos mais eficazes foi mesmo um esteroide barato chamado dexametasona. Sua eficácia foi identificada pelo Teste de Recuperação no Reino Unido, que examinou uma série de possíveis tratamentos.

Tambyah tratou de inúmeros pacientes com inflamação cerebral como consultor sênior sobre doenças infecciosas do Hospital Universitário Nacional em Singapura. A experiência o convenceu de que encontrar o esteroide certo para reduzir a inflamação pode, afinal, ajudar muitos pacientes a se recuperarem.

“O vírus do Nilo Ocidental é um flavivírus e não existe antiviral aprovado no momento para nenhum dos flavivírus, como dengue, zika ou encefalite japonesa”, afirma ele. “Acho que os esteroides provavelmente serão o futuro.”

Mas, em última análise, é preciso ter mais dados para identificar o medicamento mais adequado para combater o vírus do Nilo Ocidental. E Tambyah sugere que isso pode ser feito por meio de um estudo similar ao Teste de Recuperação britânico.

“Potencialmente, poderíamos recrutar pacientes com encefalite causada pela febre do Nilo Ocidental e incluir diversas intervenções, alguns esteroides, além de anticorpos monoclonais e talvez conseguíssemos uma resposta”, explica ele.

“Se houvesse a vontade de fazer algo a respeito, com financiamento suficiente dos governos de países afetados, poderia acontecer.”

Murray e Tambyah esperam que a presença da febre do Nilo Ocidental no noticiário, devido à doença de Anthony Fauci, possa ajudar a convencer as autoridades a dedicar mais dinheiro a esta doença tão negligenciada.

“Este vírus está aqui para ficar e iremos continuar a sofrer esses surtos”, destaca Murray.

“Se alguém como Fauci, que ocupa um cargo em que as pessoas o ouvem e respeitam, puder falar sobre o assunto, pode servir de auxílio para impulsionar mais financiamento para estudar o vírus e permitir que os cientistas se dediquem às vacinas e produtos terapêuticos.”

“Já faz 25 anos que a febre do Nilo Ocidental surgiu nos Estados Unidos e ainda não temos nada.”

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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Em 1ª reunião do G20 na ONU, Lula cobra reforma das Nações Unidas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta quarta-feira (25/9) da reunião de chanceleres do G20, em Nova York. Em seu discurso de abertura, destacou a necessidade de reforma da Organização das Nações Unidas (ONU) e do sistema financeiro global, além de citar as realizações no Brasil na presidência rotativa do G20, bloco que reúne as maiores economias do mundo.

É a primeira vez na história que uma reunião do G20 ocorre na sede das Nações Unidas, aberta a todos os 193 países-membros. A decisão sinaliza a importância da ONU como principal mecanismo de diálogo entre os países, mas também reforça o pleito por reformas estruturais.

“O Brasil mantém firme sua posição histórica: a ONU deve estar sempre no centro da governança global. A organização passa por uma crise de confiança, que precisa ser restabelecida”, declarou Lula. “O Brasil considera apresentar proposta de convocação de uma conferência de revisão da Carta das Nações Unidas com base em seu artigo nº 109”, acrescentou ainda o brasileiro.

A sessão reuniu ministros de Relações Exteriores dos países do G20, e foi conduzida pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira. Antes de Lula, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, também discursou. Seu país será o próximo a presidir do G20.

Reformar as Nações Unidas está entre as prioridades da presidência brasileira do G20, que vai até novembro. O Brasil defende historicamente a necessidade de aumentar a representação de países menos desenvolvidos na Organização, e aponta que, atualmente, a ONU não está demonstrando capacidade de evitar guerras e propor soluções para os desafios mundiais, como as mudanças climáticas.

“Se os países ricos querem o apoio do mundo em desenvolvimento para o enfrentamento das múltiplas crises do nosso tempo, o Sul Global precisa estar plenamente representado nos principais foros de decisão”, disse ainda o presidente Lula.

O petista citou a necessidade de ampliar o Conselho de Segurança, que atualmente conta apenas com cinco membros permanentes, com direito a voto, e fortalecer a Assembleia Geral, que considera a “instância mais democrática da ONU”, onde todos os países podem expor suas visões.

Para o chefe do Executivo, é preciso também reduzir as taxas de juros de instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para países menos desenvolvidos, taxar os super-ricos e reverter a tendência ao protecionismo no comércio internacional.

“Criticar sem agir é um exercício estéril que termina em desalento. Mas admitir que há fissuras a serem reparadas é o primeiro passo para construir algo melhor. Cada dia que passamos com uma estrutura internacional arcaica e excludente é um dia perdido para solucionar as graves crises que assolam a humanidade”, amarrou o presidente Lula.

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Prêmio e Reconhecimento, mais do que uma celebração!

Prêmio e Reconhecimento, mais do que uma celebração! (“Embaixadores da Região Europeia de Gastronomia de Saimaa 2024 recebem membros da Plataforma da World Region of Gastronomy para experiência gastronômica: Cozinhando Tortas Karelian” (Foto: Ben Wills))

É comum vermos uma série de iniciativas, prêmios e reconhecimentos para profissionais, empresas, instituições, territórios. Mais do que a visibilidade e apoio a construção de uma imagem positiva, um prêmio, normalmente, é a ponta do iceberg de uma série de iniciativas, projetos, programas, políticas públicas realizadas em prol de uma determinada atividade ou setor econômico. No turismo não é diferente. Para apresentar um dos muitos casos de premiações, destaco o World Region of Gastronomy Award realizado pelo International Institute of Gastronomy, Culture, Arts, and Tourism (IGCAT), para tal, nada melhor do que convidar quem é diretamente responsável pelo tema, Diane Dodd.

Dra. Diane Dodd (Foto: Ben Wills)

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Dra. Diane Dodd é presidente do International Institute of Gastronomy, Culture, Arts, and Tourism (IGCAT) e fundadora do prestigioso World Region of Gastronomy Award (Prêmio Região Mundial de Gastronomia), que capacita comunidades por meio da gastronomia, cultura e turismo. Pioneira na área, também liderou iniciativas como o European Young Chef Award (Prêmio Jovem Chef Europeu), o Food Film Menu (Cardápio de Filmes de Gastronomia), o World Food Gift Challenge (Desafio Mundial de Souvenires Gastronômicos) e a lista Top Websites for Foodie Travellers (Top websites para viajantes gastronômicos), todas destinadas a promover a criatividade gastronômica e o desenvolvimento regional. Com quase 30 anos de experiência, Diane fez contribuições significativas para a pesquisa e prática de políticas culturais locais e regionais. A quem agradeço imensamente a disponibilidade e gentileza em compartilhar seus conhecimentos e experiência.

The World Region of Gastronomy Award (Prêmio Região Mundial de Gastronomia) – Por Diane Dodd

Enquanto este artigo vai para a imprensa, me encontro na pitoresca região de Saimaa, Finlândia, a recém-coroada Região Europeia de Gastronomia 2024. Estou acompanhada aqui por representantes de várias regiões premiadas e candidatas.

Saimaa/Finlândia (Foto: Ben Wills)

O International Institute of Gastronomy, Culture, Arts, and Tourism (IGCAT) lançou o Prêmio da Região Mundial de Gastronomia para celebrar regiões que integram com sucesso a gastronomia em iniciativas de turismo sustentável ??e culturalmente enriquecedoras. Mas não se trata apenas de exibir alimentos; trata-se de usar os alimentos como uma lente para entender as culturas locais, regenerar paisagens e promover a biodiversidade, ao mesmo tempo em que apoia os meios de produção de pequenos agricultores, pescadores, artesãos e donos de restaurantes. Em essência, o prêmio destaca regiões que estão na vanguarda do uso da gastronomia como uma ferramenta para o turismo regenerativo — onde o foco muda da simples conservação para melhorar ativamente o meio ambiente local, a economia e o bem-estar da comunidade.

A filosofia por trás do prêmio

O prêmio World Region of Gastronomy Award do IGCAT é baseado em uma compreensão holística da gastronomia e do turismo como campos interdependentes que, quando gerenciados corretamente, podem melhorar significativamente o desenvolvimento regional. A gastronomia não é apenas sustento; é uma narrativa, uma janela para a herança, os costumes e o conhecimento local de uma região. Quando uma região recebe este prestigioso prêmio, significa que ela alcançou um equilíbrio entre celebrar esta herança e promover o desenvolvimento econômico sustentável por meio do turismo.

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Critérios de avaliação

Os critérios para o prêmio vão além de simplesmente ter uma comida excelente. As regiões devem demonstrar um compromisso com a inovação na produção de alimentos, sustentabilidade e preservação cultural. Elas são avaliadas em sua capacidade de fortalecer os sistemas alimentares locais, melhorar a biodiversidade e reduzir sua pegada de carbono, ao mesmo tempo em que apresentam aos turistas experiências autênticas e envolventes que fomentam o respeito pela cultura local. Esta abordagem é cada vez mais ressonante no mundo de hoje, onde os turistas estão se tornando mais conscientes de seu impacto ambiental e estão buscando conexões mais significativas com os lugares que visitam.

As regiões que receberam o prêmio IGCAT são exemplos de como a gastronomia pode ser um meio não apenas para o turismo, mas para uma agenda mais ampla de gestão ambiental e cultural regenerativa.

Aprendendo com Saimaa: a Região Europeia de Gastronomia 2024

“Embaixadores da Região Europeia de Gastronomia de Saimaa 2024 recebem membros da Plataforma da World Region of Gastronomy para experiência gastronômica: Cozinhando Tortas Karelian” (Foto: Ben Wills)

À medida que vivencio as ofertas únicas de Saimaa, fica evidente por que essa região foi escolhida como a Região Europeia de Gastronomia para 2024. Aninhada no coração da Lakeland da Finlândia, Saimaa é conhecida por suas paisagens de tirar o fôlego, vida selvagem abundante e ricas tradições culturais que giram em torno de uma profunda conexão com a natureza. No entanto, o que torna Saimaa particularmente excepcional neste contexto é sua abordagem à sustentabilidade e regeneração.

Em Saimaa, a gastronomia está profundamente ligada à terra e à água. Peixes, frutas vermelhas, cogumelos e caça locais são essenciais para a culinária, todos colhidos de maneiras que respeitam o ambiente natural e promovem a biodiversidade. Por exemplo, a região se concentrou em práticas sustentáveis de pesca ??que protegem as populações de peixes locais, ao mesmo tempo em que fornecem um produto fresco e de alta qualidade para moradores e turistas. O mesmo vale para as frutas silvestres e cogumelos que são coletados nas vastas florestas, refletindo uma tradição finlandesa profundamente enraizada de interação com o mundo natural.

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A região também é pioneira em novos modelos de turismo regenerativo que visam retribuir com mais do que aquilo que recebem. Os visitantes são convidados a participar de atividades como plantio de árvores, projetos de limpeza de lagos ou workshops sobre técnicas tradicionais de pesca e métodos de preservação de alimentos. Isso não apenas enriquece a experiência do visitante, mas contribui ativamente para a restauração e preservação dos ecossistemas naturais de Saimaa.

Tradicional Torta Karelian (Foto: Misuma/iStock)

Plataforma Mundial de Região de Gastronomia

A atmosfera colaborativa aqui em Saimaa — onde representantes de várias regiões premiadas e candidatas se reúnem para compartilhar conhecimento e melhores práticas — é uma prova do poder do prêmio IGCAT em promover parcerias globais. Estamos aprendendo uns com os outros, não apenas como preservar melhor nossas tradições culinárias e culturais, mas como criar sistemas que regenerem o meio ambiente e sustentem as economias locais.

Hoje, por exemplo, falamos sobre Turismo Regenerativo: que muitas regiões premiadas pelo IGCAT estão adotando porque representa uma mudança significativa em como pensamos sobre viagens e seu impacto em ambientes e culturas locais. Ao contrário do turismo convencional, que geralmente prioriza o lucro em vez da preservação, o turismo regenerativo visa deixar um destino melhor do que era antes. Envolve restaurar ecossistemas, apoiar economias locais e garantir que a integridade cultural e ambiental de um lugar não seja apenas mantida, mas aprimorada.

A gastronomia desempenha um papel central nessa mudança de paradigma. Ao promover sistemas alimentares sustentáveis ??de origem local, as regiões podem reduzir o impacto ambiental do turismo e, ao mesmo tempo, proporcionar aos visitantes uma experiência mais autêntica. O turismo gastronômico, que se concentra na regeneração de ecossistemas locais, vai além da fazenda para a mesa. Ele analisa como a comida é produzida, como a terra e a água são cuidadas e como as práticas culturais que envolvem a comida são preservadas e passadas para as gerações futuras.

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As regiões que recebem o prêmio IGCAT World Region of Gastronomy estão na vanguarda desse movimento. Elas usam a gastronomia como um meio de reconectar as pessoas com a terra e entre si. Os visitantes dessas regiões não são apenas consumidores passivos de comida; eles são participantes ativos na história de como essa comida é cultivada, colhida, preparada e compartilhada. Essa imersão promove um respeito mais profundo pela cultura e pelo meio ambiente local e, muitas vezes, inspira os turistas a adotar práticas mais sustentáveis ??em suas próprias vidas.

Histórias de sucesso de regiões premiadas

Várias regiões que receberam o prêmio World Region of Gastronomy servem como exemplos brilhantes de como a gastronomia pode ser aproveitada para o turismo regenerativo.

Esta região recebeu originalmente o prêmio europeu em 2016 e integrou com sucesso práticas agrícolas tradicionais com iniciativas modernas de sustentabilidade. A região se concentrou na preservação de seus antigos olivais e vinhedos, o que não apenas apoia a biodiversidade, mas também aprimora a paisagem cultural que atrai visitantes de todo o mundo.

A colaboração entre o turismo e o setor agrícola tem sido muito forte. Projetos como Welcome to the Farm (Bem vindo à Fazenda) geraram um aumento de 80% na venda de produtos agrícolas.

Da mesma forma, a South Aegean European Region of Gastronony 2019, uma região da Grécia, usou o prêmio como uma plataforma para promover a pesca sustentável e práticas agrícolas tradicionais. O governo local trabalhou com chefs e fazendeiros para criar experiências gastronômicas que destacam os ingredientes únicos da região, garantindo que esses recursos sejam protegidos para as gerações futuras. Esta colaboração ajudou a região a se tornar um modelo de turismo gastronômico sustentável no Mediterrâneo.

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No caso da Eslovênia, que foi nomeada Região Europeia da Gastronomia em 2021, o prêmio ajudou a impulsionar a reputação do país como um centro de turismo verde. O foco da Eslovênia em sistemas alimentares locais e orgânicos, combinado com seu compromisso em preservar técnicas culinárias tradicionais, tornou-a um destino popular para viajantes que buscam uma experiência autêntica e ambientalmente consciente.

O Futuro do Turismo Gastronômico

Ao olharmos para o futuro, fica claro que o Prêmio IGCAT World Region of Gastronomy continuará a desempenhar um papel crucial na promoção de sistemas alimentares e turísticos sustentáveis ??e regenerativos em todo o mundo. As regiões que receberam este prêmio não são apenas lugares para visitar; são laboratórios vivos onde soluções inovadoras para os desafios da segurança alimentar, mudanças climáticas e preservação cultural estão sendo testadas e refinadas.

Aqui em Saimaa, cercado por lagos e florestas intocadas, lembro-me do potencial que a gastronomia tem para unir as pessoas — não apenas para desfrutar da comida, mas para tomar medidas significativas em direção a um futuro mais sustentável, equitativo e regenerativo.

O prêmio é mais do que apenas um reconhecimento da excelência culinária; é um chamado à ação para que regiões em todo o mundo abracem o poder transformador da comida e da cultura na construção de um mundo melhor.

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À medida que representantes de regiões premiadas e candidatas continuam a se reunir em lugares como Saimaa, compartilhando ideias e aprendendo uns com os outros, fica claro que o futuro do turismo gastronômico está enraizado na regeneração, colaboração e profundo respeito pela terra e seu povo.

O Prêmio IGCAT World Region of Gastronomy não é apenas um prêmio — é uma visão para uma maneira mais sustentável e enriquecedora de vivenciar o mundo. Convidamos Minas Gerais, e o Brasil, a se juntar a esse movimento!

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Área queimada na savana do Cerrado aumenta 221% em agosto

As regiões de savana do Cerrado tiveram um aumento de 221% de áreas queimadas em agosto de 2024. Foram 1.239.324 hectares atingidos – mais de duas vezes o tamanho do Distrito Federal – em comparação com 386.404 hectares no mesmo período do ano passado. Este tipo de vegetação, composto por árvores, arbustos e gramíneas, é predominante no bioma e ocupa a maior parte (41,7%) de tudo o que queimou no Cerrado nos oito primeiros meses do ano. Os dados são do Monitor do Fogo, divulgados nesta quinta-feira (19/9), pelo MapBiomas coordenado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

“Ainda que a área queimada em florestas do Cerrado seja menor do que a área queimada em savanas, chama a atenção este número que foge à dinâmica comumente observada no bioma. O aumento do fogo nas formações florestais é algo novo e que pode estar relacionado à intensificação das mudanças climáticas e ao desmatamento, que fragilizam estas áreas e aumentam sua vulnerabilidade ao fogo”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

O Cerrado detém oito das 12 nascentes das principais bacias hidrográficas do Brasil. Elas abastecem os rios da Amazônia, do Pantanal, da Caatinga e da Mata Atlântica. Aquíferos que têm a maior parte de sua área no bioma também irrigam o subsolo do Pampa, a exemplo do Guarani. O aumento das regiões queimadas intensifica o alerta para o agravamento da crise hídrica no país. “O Cerrado é o coração das águas do Brasil, se o perdermos, estamos arriscando o abastecimento hídrico do país e colocando em xeque vidas humanas e da biodiversidade”, alerta Alencar.

“Se não controlarmos os incêndios e o desmatamento do Cerrado, não vai ter mais água saindo da torneira na casa da maior parte dos brasileiros”, enfatiza Yuri Salmona, diretor executivo do Instituto Cerrados.

De acordo com o instituto, as áreas agropecuárias no Cerrado tiveram crescimento de 219% na área queimada em agosto deste ano, 440.843 mil hectares queimados, contra 138.274 mil hectares em 2023. Nos primeiros oito meses do ano, a agropecuária concentrou 21% do fogo no bioma. No comparativo dos últimos cinco anos, a área queimada no Cerrado foi 95% maior em agosto de 2024 do que a média para o período. O mês marca o auge da seca no bioma, o que expande incêndios causados por ação humana, inclusive, este foi o agosto com maior área queimada no intervalo analisado, com aumento de 177% em relação a agosto de 2023.

“O Cerrado é um bioma que evoluiu com a ocorrência de fogo de forma natural, mas é importante lembrar que este fogo natural só ocorre na época chuvosa, por meio de raios, então é bastante raro. Na seca, o fator humano é o principal responsável pelos incêndios no bioma. É preciso criar mecanismos para que a gente possa manter este bioma vivo, seja com a redução do uso do fogo e o manejo desta ferramenta, seja com a criação de áreas protegidas”, complementa Alencar.

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Uma pesquisa inovadora e uma chance à sustentabilidade

Perpétua Almeida — Diretora de Economia Sustentável e Industrialização na Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Foi deputada federal pelo Acre por quatro mandatos

Desde menina, me acostumei a ver fumaça no céu e a tossir com a fuligem das queimadas. Isso só acontecia no fim do mês de setembro, quando a certeza do início do período chuvoso na Amazônia obrigava o pequeno agricultor a encoivarar o roçado aberto ou a tocar fogo em pedaços de mata para abrir o roçado que sustentava a sua família.

Porém, os incêndios e as queimadas que desde agosto encobrem nossos céus de fumaça têm me assustado e me preocupado. A agricultura de subsistência nunca foi capaz de tanto fogo, e é preciso saber desses focos. O uso do fogo já não cabe mais nas tecnologias do século 21, e essa tragédia cobra responsabilidade de todos nós. Aqui, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) traz a sua resposta com a nova Pesquisa de Inovação Semestral (PINTEC Semestral), realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Inovação e boas práticas na indústria brasileira acontecem em intervalos extremos, indo de exemplos de excelência até bolsões de atraso. Essa é outra desigualdade, nem sempre vista como tal, entre tantas que desafiam o país e precisam ser superadas para que o Brasil possa consolidar um projeto nacional de desenvolvimento sustentável. Para orientar a formulação de políticas públicas que disseminem conhecimento, novas tecnologias, inovação e boas práticas, é indispensável produzir estatísticas sólidas que ajudem a traçar um panorama do real estado da arte da indústria brasileira e apontar possibilidades de futuro. Nossa pesquisa está aderente ao programa Nova Indústria Brasil (NIB), porque é capaz de fortalecer o impulsionamento de ciência, tecnologia e inovação a partir da sistematização de informações de qualidade. O caráter transversal desse trabalho o torna um eixo de apoio ao conjunto de missões da NIB.

Coerente com o nosso gosto pela inovação, construímos essa recém-lançada edição da PINTEC a partir de uma configuração inédita, aprofundando sondagens que buscam jogar luz sobre fatores que dificultam ou facilitam a inovação de iniciativas no setor público e privado e abordam práticas ambientais e biotecnologia, questões relacionadas a recursos hídricos e sólidos, eficiência energética, uso do solo, reciclagem e reuso, além de emissões atmosféricas — item que ressalta o acerto da sondagem proposta frente ao momento dramático causado pelos incêndios e pela fumaça que ocorrem de norte a sul do país. Além de investigar a visão empresarial acerca de instrumentos de políticas públicas, busca identificar relações de cooperação estabelecidas pelas empresas para a adoção de iniciativas ambientais.

Essas informações devem orientar os esforços da NIB relacionados à missão que trata de bioeconomia, descarbonização, transição e segurança energéticas, inclusive para garantir o legado dos recursos naturais às futuras gerações. O tema perpassa a missão de identificar e fortalecer cadeias agroindustriais sustentáveis para a segurança alimentar, nutricional e energética. Associa-se ainda a outras iniciativas do governo federal, como a Política Nacional de Transição Energética, que atenta para a diversificação e o fortalecimento de fontes renováveis.

Todos esses esforços convergem para estimular o desenvolvimento a partir de relações sustentáveis com a natureza e seus biomas, de modo a possibilitar a geração de riqueza e sua distribuição justa e inclusiva. Nesse contexto, emerge o conceito de neoindustrialização, propondo o desenvolvimento industrial sustentável com foco na agregação de valor, na produção limpa, no consumo consciente e nas fontes renováveis de energia. A ABDI está comprometida e mobilizada para esse esforço, tanto que reestruturou sua organização corporativa para implantar a Diretoria de Economia Sustentável e Industrialização.

A PINTEC Semestral é uma ferramenta extraordinária disponibilizada à indústria nacional, com dados estruturados sobre motivações, resultados, os obstáculos e as soluções identificadas pelas empresas na busca por uma indústria mais limpa e ambientalmente sustentável. Aportando recursos técnicos e financeiros, mobilizando parceiros e direcionando esforços para as prioridades identificadas em pesquisa tão excelente e inovadora, a ABDI se alia aos esforços do governo brasileiro, do setor produtivo e, notadamente, da sociedade, que pede compromisso e urgência para o desenvolvimento sustentável do país.

Por fim, sinais de fumaça gritam de norte a sul do país, e esses incêndios devem ser apagados, mas não esquecidos. Estudos como a PINTEC alentam com alguma chance. Talvez, a última.

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Por que mudar classificação de furacões pode salvar vidas

O furacão Ernesto causou danos devastadores em Porto Rico, em meados de agosto. A tempestade recebeu a avaliação mais baixa da escala Saffir-Simpson —a classificação oficial dos furacões— devido à velocidade dos ventos de 120 km/h.

Mas as tempestades que mal atingem o nível mais baixo da escala de furacões podem causar tantos danos quanto a categoria 5.

Com as mudanças climáticas trazendo tempestades mais fortes e estações de furacões mais violentas, vêm crescendo os alertas para repensarmos nossa forma de avaliação dos furacões.

A escala Saffir-Simpson é amplamente empregada há mais de 50 anos, mas ela apresenta falhas importantes que levam os cientistas a questionar se esta é realmente a melhor solução.

Estão surgindo diversas propostas para aprimorar ou substituir a escala Saffir-Simpson. Com isso, será possível salvar mais vidas, com melhores sistemas de alerta.

O problema da água

Criada no início dos anos 1970 pelo engenheiro civil Herbert Saffir (1917-2007) e pelo meteorologista Robert Simpson (1912-2014), a escala mede a velocidade máxima sustentada dos ventos de uma tempestade. Ela é usada para classificar os furacões em graus de 1 a 5, em que 5 é o mais intenso.

A velocidade do vento é medida por aviões de reconhecimento, conduzidos pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês). Elas lançam instrumentos que medem a pressão, a direção e a velocidade do vento enquanto caem em direção ao mar.

Mas a escala Saffir-Simpson não leva em consideração outros impactos causados pelos furacões, como a maré de tempestade, as fortes chuvas ou as inundações. E a ameaça mais mortal causada pelos furacões vem da água, não do vento.

Na verdade, 90% das mortes relacionadas a furacões em todo o mundo são causadas por afogamento, seja pela maré de tempestade ou pelas enchentes causadas pelas chuvas extremas, segundo o Centro Climático da Universidade Estadual da Flórida, nos Estados Unidos.

“A escala Saffir-Simpson é inadequada”, afirma o cientista Michael Wehner, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia (Estados Unidos). Wehner é especializado nas mudanças de comportamento dos eventos climáticos extremos.

“A questão é que a escala é simplesmente uma medida da maior velocidade dos ventos em qualquer ponto da tempestade”, explica ele. “Mas a maior parte dos danos é causada pela água, não pelo vento.”

Alguns dos furacões que causaram mais prejuízos até hoje —como o Sandy— eram tempestades categoria 1, com velocidades do vento relativamente baixas. Mas essas tempestades, às vezes, podem causar sérias inundações no litoral.

As águas do Sandy ultrapassaram em 53% as planícies de inundação mantidas por 100 anos, danificaram centenas de milhares de residências e causaram danos estimados em US$ 88,5 bilhões (cerca de R$ 485 bilhões).

“A velocidade máxima do vento tem muito pouca relação com a maré de tempestade”, explica o professor de meteorologia Vasu Misra, do Centro de Estudos de Previsões Oceânicas e Atmosféricas da Universidade Estadual da Flórida. “A maré de tempestade é proporcional à tensão do vento.” Ele explica que a tensão é a força exercida pelo vento sobre a superfície do oceano.

“Por isso, na verdade, é questão da distribuição horizontal dos ventos em torno do ciclone tropical, não uma estimativa pontual”, afirma ele.

Tamanho da tempestade

Misra destaca que a escala Saffir-Simpson não considera o tamanho geral de um furacão, nem a distribuição horizontal dos ventos.

O professor propôs uma nova medida do poder destrutivo dos furacões, para complementar a escala Saffir-Simpson. Conhecida como Energia Cinética Integrada Rastreada (Tike, na sigla em inglês), ela mede o tamanho do campo dos ventos, além da intensidade e da duração da tempestade.

Em vez de aeronaves de reconhecimento, esta metodologia seria baseada em estimativas de satélite da distribuição dos ventos nos furacões, segundo Misra.

Mas existem diversas dificuldades para a obtenção de dados precisos. Misra destaca que, muitas vezes, existe forte cobertura de nuvens em volta do furacão, o que faz com que surjam “algumas incertezas”.

Ele explica que outro “grande problema prático” é que estas estimativas somente são disponíveis para a bacia do Leste do Pacífico e o Oceano Atlântico, não para o Oceano Índico e o Oeste do Pacífico, devido à localização dos satélites.

Novas tecnologias, como drones marítimos (veículos movidos pelo vento que parecem pequenos botes e medem a intensidade dos furacões), estão ajudando a aprimorar os dados, segundo Misra.

“Mas o custo será um problema”, segundo ele. “Quantos drones marítimos você realmente consegue lançar para [capturar] a distribuição dos ventos em volta de um furacão que pode se espalhar por milhares de quilômetros?”

O professor emérito de ciências atmosféricas Kerry Emanuel, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), afirma que toda a metodologia precisa ser completamente repensada.

“Sou a favor de abandonar a escala Saffir-Simpson e começar de novo”, afirma ele. “Ela não é uma medida muito boa do risco real. O foco tem sido na meteorologia e não no risco e precisamos mudar de direção.”

Mas a escala Tike também pode trazer problemas similares à escala Saffir-Simpson, segundo Emanuel. “Qualquer escala que lide apenas com o vento irá falhar em muitos casos e é por isso que precisamos substituí-la.”

“Nenhuma escala específica pode representar todos esses impactos para todos os locais”, afirmou à BBC o vice-diretor do Centro Nacional de Furacões da Noaa, Jamie Rhome.

Para alertar as pessoas sobre os riscos das marés de tempestade durante os furacões, o órgão estabeleceu um sistema de acompanhamento e alerta de marés de tempestade, segundo ele.

Como os furacões são “fenômenos que trazem diversos riscos, o Centro Nacional de Furacões prefere comunicar os possíveis impactos desses riscos separadamente, pois eles podem ocorrer em diferentes momentos e locais”, segundo ele.

Sinais de trânsito

Emanuel gostaria de ver um novo sistema de classificação que seja “muito similar ao que é usado pelo Escritório de Meteorologia do Reino Unido, que simplesmente avalia a magnitude do risco em uma escala colorida e [emite] um alerta amarelo, laranja ou vermelho”, explica ele.

Os alertas do serviço nacional de meteorologia britânico recebem cores dependendo dos possíveis impactos do evento meteorológico e como esses impactos provavelmente devem acontecer.

“Precisamos mudar para uma estrutura concentrada nas pessoas, não nas tempestades, para os alertas de furacões”, afirma Emanuel.

Uma abordagem mais personalizada, que forneça às pessoas a probabilidade de ocorrência de uma série de eventos meteorológicos graves na sua região, ajudaria as pessoas a compreender o nível de risco e tomar as precauções necessárias, segundo ele.

“Precisamos de um aplicativo de celular separado que seja dedicado ao risco e saiba onde você está, para poder informar qual é a probabilidade de incidência de ventos destrutivos na sua comunidade ou de níveis de água que irão inundar a sua casa”, explica Emanuel. “Já fazemos isso para as previsões comuns do tempo.”

Ele destaca que existe entre cientistas o sentimento de que “o público não é suficientemente sofisticado ou inteligente para interpretar isso”, ressaltando que ele não compartilha esta opinião.

Mas a simplicidade da escala Saffir-Simpson não facilita a compreensão do público.

“É fácil comunicar a ameaça do ciclone tropical com base nessas categorias e, provavelmente, esta é a principal razão da relutância para substituir a medida por qualquer outra coisa”, explica Misra.

Wehner afirma que é importante que o público compreenda que “a escala Saffir-Simpson não conta toda a história”.

“Acho que o público se beneficia com informações mais detalhadas”, afirma ele. “O Centro Nacional de Furacões fornece isso e os bons meteorologistas da imprensa fazem uso eficiente dessas informações.”

Furacões categoria 6?

Os furacões estão ficando mais intensos e destrutivos devido ao aumento da temperatura dos oceanos, que alimenta ainda mais os furacões.

Um estudo de 2020 concluiu que, atualmente, as tempestades têm 25% mais probabilidade de atingir o limite mínimo de 180 km/h para que sejam consideradas grandes furacões (categoria 3 e acima) do que 40 anos atrás.

Com furacões mais intensos e velocidades dos ventos mais altas, seria conveniente acrescentar a categoria 6 à atual escala Saffir-Simpson?

Em fevereiro de 2024, Michael Wehner e seu colega James Kossin, cientista climático e atmosférico aposentado da Noaa, publicaram um documento sobre as desvantagens de uma escala Saffir-Simpson que vá apenas até a categoria 5.

“Não existe mais razão para que [a escala] tenha um teto”, declarou Kossin à BBC durante o furacão Beryl, no início de julho.

Existem furacões que já ultrapassaram o limite teórico da categoria 6, como o furacão Patrícia em 2015 e o tufão Haiyan, em 2013.

Mas o simples acréscimo da categoria 6 para descrever tempestades mais fortes pode trazer mais prejuízos do que benefícios, segundo Kossin.

“Na verdade, acho que é uma ideia terrível, por muitas razões.” Ele alerta, por exemplo, que uma categoria mais alta poderá simplesmente fazer com que as pessoas tratem a categoria 5 como sendo menos perigosa.

“É simplesmente o comportamento humano”, afirma Kossin. “Algumas pessoas irão procurar qualquer desculpa para evitar a evacuação.”

Wehner acredita que o Centro Nacional de Furacões da Noaa deveria, em última análise, decidir se deve acrescentar a categoria 6 à escala atual.

Jamie Rhome afirma que a categoria 5 já descreve “danos catastróficos” causados pelo vento. “Por isso, não está claro se haveria necessidade de outra categoria, mesmo se as tempestades ficarem mais fortes.”

Como a maioria das mortes relacionadas a furacões é causada pela água, não pelo vento, “não queremos enfatizar demais o risco dos ventos, depositando muita ênfase na categoria”, segundo Rhome.

Wehner é da mesma opinião. Para ele, “os riscos dos furacões são mais complexos do que pode transmitir um simples número”.

Mas alguns cientistas realmente defendem a adição da categoria 6.

Emanuel afirma que, se formos ficar com a escala Saffir-Simpson, expandi-la até a categoria 6 enviaria uma “mensagem clara para as pessoas de que as mudanças climáticas estão influenciando os furacões. Sua principal utilidade seria chamar a atenção para este fato.”

Mas outras pessoas manifestam preocupação com esta classificação.

“Qualquer coisa acima da categoria 3 deveria ser considerada uma ameaça”, segundo Vasu Misra. “As pessoas não deveriam esperar a categoria 6 para agir ou reagir.”

A assistente da divisão de pesquisas sobre furacões da Noaa, Heather Holbach, também receia que o aumento do número de categorias possa prejudicar a seriedade das pessoas em relação às tempestades com avaliações mais baixas. Ela não vê motivo para criar a categoria 6, por motivos científicos.

“Uma das minhas preocupações seria se isso irá fazer alguém se preocupar menos com um furacão categoria 1 ou 2, que ainda são ameaças significativas”, diz ela. “Acho que existe um enorme componente de ciência social que precisa ser muito mais compreendido.”

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Volta do horário de verão é possibilidade real, diz ministro

O ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, afirmou, nesta quinta-feira (dia 12), em São Paulo, que a volta do horário brasileiro de verão é uma possibilidade real, para melhor aproveitamento da luz natural em relação à artificial e a consequente redução de consumo de energia elétrica no país.

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“O horário de verão é uma possibilidade real, mas não é um fato porque tem implicações, não só energética, tem implicações econômicas. É importante para diminuir o despacho de térmicas nos horários de ponta, mas é uma das medidas, porque ela impacta muito a vida das pessoas”, reconhece o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira.

Devido às implicações do horário de verão no cotidiano dos brasileiros, o ministro entende que a decisão de adiantar os relógios em uma hora, em parte do território brasileiro não pode ser tomada precipitadamente. As informações são da Agência Brasil.

“[A medida] não deve ser tomada de forma açodada. Se necessário, não tenham dúvida, que nós voltaremos com o horário [de verão]”, concluiu o ministro.

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Silveira confirmou que, na segunda-feira determinou ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e a Secretaria Nacional de Energia Elétrica (MME) que se reúnam com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para apresentar um plano de contingência para o verão de 2024/2025 e o planejamento energético do próximo ano.

O ministro afirmou ainda que pesquisas demonstram que os efeitos do horário de verão — durante os meses da primavera e do verão — são positivos para diversos setores econômicos do Brasil, como o turismo, além de bares e restaurantes.

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Térmicas e energia verde

O ministro considera que a economia gerada pelo horário de verão é importante para reduzir o despacho de usinas térmicas nos horários de pico de consumo, entre 18 horas e 21 horas, geralmente.

Por isso, no plano de contingência solicitado ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, o ministro disse querer informações sobre quais térmicas são da Petrobras, do setor privado e quais são as principais fontes das usinas que geram energia elétrica a partir, por exemplo, da queima de óleo diesel, combustível fóssil derivado do petróleo. O objetivo é manter o equilíbrio do setor elétrico brasileiro com segurança energética.

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Demanda

O ministro afirmou que é necessária a geração de energia no país, porque a temperatura mundial tem subido e apresentou dados sobre o crescimento do consumo de energia.

“O Brasil nunca tinha consumido, antes de setembro deste ano, 105 gigawatt [GW] em uma tarde. A média é 85 GW, o que demonstra que nós tivemos todos os ar condicionados do Brasil ligados e que a necessidade de energia, cada vez, mais oscila no Brasil”, disse.

Para ele, o futuro energético passa pela economia verde:

“Não há salvação fora da nova economia verde que considera a necessidade do desenvolvimento econômico; do capital ser remunerado com sustentabilidade; com o mais restrito respeito à legislação ambiental e frutos sociais para combater a desigualdade, que é uma realidade no nosso país”.

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As declarações do ministro foram dadas em São Paulo, em encontro com o ministro do Meio Ambiente e Segurança Energética da Itália, Gilberto Prichetto Fratin, que acompanhou medidas para melhorar a qualidade dos serviços prestados pela empresa Enel Distribuição São Paulo, após os últimos apagões elétricos naquele estado.

Horário de verão

O horário brasileiro de verão foi instituído pela primeira vez pelo, então, presidente Getúlio Vargas, de 3 de outubro de 1931 a 31 de março de 1932.

No Brasil, o horário de verão funcionou continuamente de 1985 até 2019, quando o governo federal passado decidiu revogá-lo, em abril de 2019, alegando pouca efetividade na economia energética.

Antes da extinção, o período de vigência do horário de verão entre os meses de outubro e fevereiro era definido, de acordo com critérios técnicos, para aproveitar as diferenças de luminosidade entre os períodos de verão e do restante do ano.

A medida impactava na redução da concentração de consumo elétrico entre 18h e 21h.

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Até a extinção, o horário de verão era aplicado nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e, ainda, no Distrito Federal. E ficavam de fora da política pública as regiões Norte e Nordeste, por não representar redução da demanda energética significativa nos estados das duas regiões, devido à diferença na luminosidade em relação ao restante do país.

De acordo com o Decreto 9.242 de 2017, a hora de verão funcionava a partir de zero hora do primeiro domingo do mês de novembro de cada ano, até oh do terceiro domingo do mês de fevereiro do ano seguinte. Mas, se coincidisse com o domingo de carnaval, o encerramento ocorria no domingo seguinte.

Em resposta à Agência Brasil, o Ministério de Minas e Energia esclarece que o retorno do horário de verão deve ser analisado sob diversos aspectos, como a geração de energia, os índices pluviométricos e, também, os aspectos econômicos da medida. O MME segue analisando as condições com responsabilidade, de modo que garanta a segurança energética para todos os brasileiros.

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6 profissões indicadas para quem gosta de animais

Profissões ligadas à natureza e ao mundo animal estão ganhando cada vez mais destaque, impulsionadas pela crescente preocupação com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. Esses profissionais atuam diretamente na conservação de ecossistemas, no cuidado com a fauna e na pesquisa sobre espécies e habitat.

Abaixo, confira 6 profissões indicadas para quem gosta de animais e de estar em contato com a natureza:

1. Biólogo

Os biólogos estudam os ecossistemas e a biodiversidade, investigando a vida animal e vegetal em diversos ambientes. Trabalham em pesquisa, conservação de espécies e podem atuar em parques nacionais, reservas ou institutos de pesquisa. A carreira é ideal para quem tem interesse em entender a complexidade dos seres vivos e suas interações com o meio ambiente.

2. Veterinário

Veterinários cuidam da saúde de animais domésticos e selvagens, tratando doenças e realizando cirurgias quando necessário. Além de clínicas, eles podem trabalhar em zoológicos, santuários ou em projetos de conservação. Para quem ama os animais, a profissão oferece a chance de contribuir diretamente para o bem-estar deles.

3. Engenheiro ambiental

Focados na preservação dos recursos naturais, os engenheiros ambientais trabalham no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e no controle de impactos naturais. Eles atuam em projetos de saneamento, recuperação de áreas degradadas e no controle da poluição. Trata-se de uma profissão indicada para quem deseja unir natureza, ciência e tecnologia para proteger o planeta.

Zootecnistas desenvolvem técnicas para alimentação, reprodução e bem-estar animal (Imagem: Barillo_Picture | Shutterstock)

4. Zootecnista

Zootecnistas se especializam em criar e manejar animais de maneira sustentável, melhorando a qualidade de vida deles e a produtividade. Atuando em fazendas, indústrias ou centros de pesquisa, eles desenvolvem técnicas para alimentação, reprodução e bem-estar animal. Trata-se de uma opção para quem deseja trabalhar diretamente com diferentes espécies em ambientes rurais ou de produção.

5. Oceanógrafo

Oceanógrafos estudam os oceanos e suas interações com o clima, a fauna e a flora marinha. Trabalham na conservação de espécies marinhas, na pesquisa de ecossistemas subaquáticos e no monitoramento ambiental de áreas costeiras. Para quem gosta do mar e se interessa por biologia, geologia e climatologia, essa carreira é uma excelente escolha.

6. Guia de ecoturismo

Guias de ecoturismo lideram grupos em visitas a parques, reservas naturais e áreas de preservação, promovendo o turismo sustentável. Além de compartilharem conhecimentos sobre a fauna e a flora locais, eles educam os visitantes sobre a importância da conservação ambiental. Para quem ama a natureza e quer estar sempre em contato com ela, essa profissão combina aventura e conscientização.

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